O lyrio desponta e cresce
Á luz da manhã que assoma,
Tudo é viço e tudo aroma
N'aquella graciosa flor;
A doce gota de orvalho
Das folhas lhe desce em meio,
Como desce a um casto seio
Uma lagrima de amor.
Desponta e cresce: sosinho,
No seu retiro innocente
Não ouve, não ve, não sente
As tempestades d'alem;
É como avesinha implume
Que, no seu ninho esquecido,
Não sabe prestar ouvido
Aos cantos que vão e vem.
E o lyrio treme; inlevado
Ergue o seio inda entre-aberto,
E escuta o murmurio incerto
Que entre as ramas accordou;
Pobre flor! e incauta perdes
Tantas graças peregrinas,
E essas perolas divinas
Com que a manhã te orvalhou!
Desponta e cresce: mais tarde,
Brilha o sol, rompe a alegria,
Tudo é festa, é dia, é dia,
Retoucam-se as solidões;
A luz inunda as campinas,
O rubor accende a rosa,
A vida palpita anciosa
No mundo, no mundo e nos corações!
Autor/a da transcrición: e~xenio