Centro de Documentación da AELG
A magnitude da maisvalia (inédito) - 2 [Texto íntegro]
Lugris, Igor

Licenciei-me em paciência
fazendo estudos de resignaçom
A perseverança é umha das minhas matérias preferidas
Realicei as práticas nas paradas dos autocarros
e a minha tese de licenciatura nas colas das oficinas bancárias
O mundo inteiro aguarda a que eu esperte para pór-se a funcionar
Eu som a medida do tempo
desde que descubrirom que os relógios iam rápido demais
E aqui estou
aguardando por qualquer cousa
que já esquecim
Sigo aqui
Para sempre ou quase sempre



 

Umha lenta imagem de tranqüilidade

cai em silêncio

e profundamente

até afogar as sensaçons



 

Nem sei

se chegarei tam longe

di o babiolo

em voz baixa

ao condutor do autocarro

que lhe pergunta polo fim de semana



 

Casa Skylab[1]

 

 

Quando se nega o dia a escalar o corpo dos altos edifícios

mostrando fragmentos de estrelas proibidas

onde a penas existem feridas que se esquecem

porque nos arrodean os poldros perdidos da brétema

 

Alta cidade tinguida pola névoa

Na cidade chove em amarelo

umha água fresca que me encelma a língua

e umha música lonxana esvaendo-se

 

Desde a opaca pátina do balcom pechado

no abissal fundo dos oceanos

venhem lentas as fías dos remorsos

No meio da rua

grosseira inculta e pouco delicada

em um jardin que tarde ou cedo há engolir o asfalto

memória do que queremos esquecer

ainda há algo a reclamar-nos

 

Som tempos de olhar a chuva

invernía no lento fluír dos almanaques

Será a emoçom quanto vale nesta terra?
De cada cidade agroma o aroma dum mistério

fronte ao mar equivocado

Como sei que ti e eu nos queremos

 

[2] O título é de Santiago Jaureguizar e os versos de: Celso Álvarez Cáccamo, Luisa Villalta, Miro Villar, Anxo Angueira, Xohana Torres, Fran Alonso, Antón Avilés de Taramancos, Xosé Luís Santos Cabanas, Yolanda Castaño, José Alberte Corral Iglesias, Ana Romani, Emma Couceiro, Lois Pereiro, Pilar Pallarés, Marta Dacosta, X. Antón L. Dobao, Eduardo Estévez, Carlos Negro, Estíbaliz Espinosa, Alberte Momán, Franck Meyer, Maria Lado.

 


 

Semelha

que cada vez temos mais sítio

entre tantos objectos alheios

que nos rodeiam

 

Semelha

que nos acostumamos

a viver assim

tam longe de nós mesmos

e tam perto da distáncia

 

Pode ser

Pode ser

Nada é descartável a priori

Finalmente vai resultar

que nom há diferença

entre o ser e o estar



 

Fôrom umhas palavras

Talvez umhas luzes

Se calhar umhas ilusons

 

De todas as formas

queimavam os olhos

tinham esse grave odor

que sempre trai o desconhecido

e sabiam a felicidade

Um doce e agradável sabor a felicidade



 

Olho para as leitugas

enquanto boto água nas fendas da memória

e co sacho golpeio docemente

cada umha das palavras que rodeiam esta casa

“Parabéns”

berram os gatos todos os gatos do mundo

enquanto sigo a cair polo precipício

e oito galinhas cantam

a coro

a melodia das casas habitadas

 

Um cam dorme diante da porta

aberta

 

Lentamente

esqueço as horas

os minutos os segundos

até chegar a esta pequena sensaçom de calor

Talvez todo seja arrastar palavras

dum lado para outro

sem cessar

até que alguém escuite

e entom ficar em silêncio

Para sempre



 

Nom tenho sono

Dixo a noite à lua



 

Sempre há alguém que vai na tua direcçom

 

Estava sentado sobre a cidade

no castelo

mirando para a
Mouraria

 

Ele ia para a Ponte Nova

Ela para Taramúndi



 

Eis quem pensa que a derrota é umha vitória

e nom só nom pactua a rendiçom

mas entrega incondicionalmente as suas armas

os seus exércitos

na procura dumha salvaçom in extremis

que lhe assegure um lugar à direita do pai

ou à esquerda

tanto tem

porque o importante é saírem na foto



 

Enterrou no meio da leira

num burato bem fundo

a distáncia e a memória

E nesse mesmo lugar

plantou as vides

 

o vinho soubo-lhe sempre a nostalgia

e era muito apreciado nos locais de fado

Nom lho queriam na cooperativa



 

Deverias caminhar sobre as águas

dixo-lhe aquela calorosa tarde a voz interior

E intentou-no

Intentou-no repetidas vezes

até que o socorrista lhe chamou a atençom

por andar a fazer o parvo

nas piscinas municipais



 

o citroen saxo tuneado de aitor

soa melhor que o último CD de Eminem

a todo volume

que agora se escuita em toda a aldeia

de zero a cem

polo pentagrama turbo injection de luzes de néon azuis

apurando as sensaçons na avenida da liberdade

até exactamente

o monumento aos doadores de sangue

que se interpom na pista de baile com linha contínua

e decide justo depois do ceda

com um sigiloso estrondo

premir no botom do stop



 

Chove

Por fim chove

 

Tu estarás na cama

 

e eu

poderei cantar essa cançom dos Smiths

de que tanto gostas



 

Às vezes

gostaria de respirar

umha só vez

como quando o silêncio

ou como quando os olhos